Durante o dia, os afazeres, os compromissos, as visitas
constantes. Alguns fatores a fizeram mudar a rotina e se tinha algo que a
deixava completamente “transtornada” eram mudanças que exigissem mais do seu físico.
Mexer em seu relógio biológico era tão perigoso quanto atirar pedras numa
colmeia. Mas uma coisa que essa garota tinha de “incrível” era a capacidade de “sacrifício”.
Se tinha algo que literalmente a fazia esquecer-se das suas overdoses de sono e
seu total desprezo pelas primeiras horas do dia, era a família. Em resumo da
opera, sua construção de cartas estava completamente no chão. E toda aquela sua
ânsia de controle sobre tudo, toda aquela postura firme e convincente de “segurança”
estava a um fio de ruir assim como seu castelo. Parece que de tanto dizer “meu
lado certo é o errado”, assim se fez.
Fora todos os seus problemas (algo que não era especificamente só com ela, afinal, quem de nós não tem problemas?) ainda havia aquela situação indigesta. E voltamos a tão cansada e sofrida tecla... O que foi dito, o que não foi dito, o que talvez nunca seja. As duvidas, as certezas, as respostas, as perguntas. Tudo parece caminhar em circulo. E você fica ali, no meio de tudo esperando que ora ou outra, a coragem vença e resolva aquele emaranhado de inquietações que lhe causam tanto medo. Não é novidade pra ninguém que quando ela adota o silencio, aporra ficou seria. Logo ela, que fala pelos cotovelos, que eleva o tom por
qualquer bobagem, que desce do salto e atira copos, talheres, que argumenta de
peito cheio, quando se cala, de duas uma. Ou as palavras sumiram pelo choque,
ou esta literalmente ferida por dentro. E ele a feriu, mas ela sempre arrumava
uma maneira de se reinventar, de se restaurar, de lidar com a dor que vez por
outra vinha forte e que bizarramente, ela a fazia aliviar buscando por ele.
Entre os livros, sapiando os canais da TV, ouvindo repetidamente as canções que
descaradamente “roubaram” pra eles, relendo suas cartas, ouvindo uma, duas,
três, quatro e muitas vezes até dormir, os áudios dos seus melhores aos piores momentos, que salvou
ironicamente numa pasta, nomeada “delete”. Sadismo? Masoquismo? A essa altura,
o único nome que ela conseguia dar a essa “tortura” era “sinto muito, sinto
mesmo”.
E de sentir ela entendia, ao menos do sentir dela. Por mais que se calasse, que se segurasse tudo que ela deixava de dizer, aquilo gritava constantemente em seu peito. Por mais que ela tentasse disfarçar, continuar com sua vida, vez ou outra suas emoções passavam pela apertada aresta e se faziam enxergar. Fosse no marejar dos olhos no meio de uma conversa casual num churrasco de domingo, ou sozinha, pega repentinamente no banho ou mesmo passando um café no meio da madrugada sozinha na cozinha. As coisas com ela não tinham aviso, não havia alertas ou toques de recolher. E quando acontecia, ela sequer era capaz de conter. A avalanche de raiva, a inundação do choro ou mesmo a euforia do riso, simplesmente rompiam. E com isso ela estava acostumada, fosse o que fosse, vinha e pronto. Ela só precisava de um tempo, daquele tempo (maldito tempo). Dela com ela. Onde nada nem ninguém poderia ou conseguiria salva-la. Ela havia adotado essa técnica como rota de fuga. Como se em seu coração houvesse uma passagem secreta (ou um quarto do pânico, já que quando ela entrava naquelaporra de bolha, ou casulo
ou sei lá que caralho a quatro, não saia por nada até se sentir segura).
Fora todos os seus problemas (algo que não era especificamente só com ela, afinal, quem de nós não tem problemas?) ainda havia aquela situação indigesta. E voltamos a tão cansada e sofrida tecla... O que foi dito, o que não foi dito, o que talvez nunca seja. As duvidas, as certezas, as respostas, as perguntas. Tudo parece caminhar em circulo. E você fica ali, no meio de tudo esperando que ora ou outra, a coragem vença e resolva aquele emaranhado de inquietações que lhe causam tanto medo. Não é novidade pra ninguém que quando ela adota o silencio, a
E de sentir ela entendia, ao menos do sentir dela. Por mais que se calasse, que se segurasse tudo que ela deixava de dizer, aquilo gritava constantemente em seu peito. Por mais que ela tentasse disfarçar, continuar com sua vida, vez ou outra suas emoções passavam pela apertada aresta e se faziam enxergar. Fosse no marejar dos olhos no meio de uma conversa casual num churrasco de domingo, ou sozinha, pega repentinamente no banho ou mesmo passando um café no meio da madrugada sozinha na cozinha. As coisas com ela não tinham aviso, não havia alertas ou toques de recolher. E quando acontecia, ela sequer era capaz de conter. A avalanche de raiva, a inundação do choro ou mesmo a euforia do riso, simplesmente rompiam. E com isso ela estava acostumada, fosse o que fosse, vinha e pronto. Ela só precisava de um tempo, daquele tempo (maldito tempo). Dela com ela. Onde nada nem ninguém poderia ou conseguiria salva-la. Ela havia adotado essa técnica como rota de fuga. Como se em seu coração houvesse uma passagem secreta (ou um quarto do pânico, já que quando ela entrava naquela
Noite dessas, ela se levantou (tem se levantado muito) e
notou que havia um envelope debaixo da porta. Cerrou o cenho, encolheu as pálpebras
e se aproximou. Assim que o apanhou sentiu ressecar a garganta, percebeu que
não havia remetente, sequer um carimbo que pudesse lhe dar pistas de quem o
teria colocado ali. Mas seu coração ou seu sexto sentindo, seu dom místico (fada/bruxa
como dizem por ai) soou o alarme. Respirou algumas vezes, tirou os fones e
alinhou o envelope sobre a mesa. As mãos espalmaram a superfície gelada e o ar
começou a faltar antes mesmo dela começar a passar os olhos no que estava
escrito ali, se é que tinha algo escrito. Milhões de coisas passaram pela sua
cabeça, agora a certeza era tão segura que dezenas de perguntas, respostas,
novas, antigas, começara, a sufocar sua garganta e pesar em sua cabeça.
Ela abriu o envelope e assim que sua retina passou nas primeiras palavras ela
sentiu o frio percorrer-lhe a espinha.
Rapidamente leu, depois leu mais uma, duas, e
releu, e
espremeu as palavras, e se alimentou das frases, e consumiu as emoções
que
vieram cunhadas nas palavras dele, e sentiu despertar a raiva que lutou
pra
adormecer, e seu rosto ardia respondendo a emoção que não podia conter. E
seus
olhos inundaram, e seus sentimentos acordaram como se nunca tivessem
corrido o
risco de morrer. Estaria ele tentando pela ultima vez mostrar a ela, que
embora
estivesse há 179 dias fora de casa, ela não havia em momento algum,
deixado de
estar com ela? Estaria ele, desta vez disposto há atropelar esses meses e
provar pra ela, que não há lugar que ele queira estar, senão com ela?
Estariam
eles, dispostos a esquecer, a sentar e esclarecer todas as duvidas pra
poderem deixar essas 4.296 horas pra trás e recomeçarem o resto dos seus
dias juntos?
Ela apanhou aquela carta, colocou-a sobre a cama e mais uma vez leu, iria responder, desta vez diretamente, sem sombras, sem fantasmas, como sempre o fez. Do jeito dela, franco, sincero, direto. Na lata, como ela gosta dizer.
Ela apanhou aquela carta, colocou-a sobre a cama e mais uma vez leu, iria responder, desta vez diretamente, sem sombras, sem fantasmas, como sempre o fez. Do jeito dela, franco, sincero, direto. Na lata, como ela gosta dizer.
Por. Bell.B