21 setembro 2016

Ela (Recaída) V

Tudo continuo a seguir, afinal, como diz Shakespeare “a vida não para pra você juntar os pedaços”. Sempre de longe, por intermédios de outra pessoa eu dava um jeito de saber dela. Tomei algumas medidas radicais, mas isso não me fez sofrer menos ou me sentir em paz. Era sempre angustiante querer alcançar, saber dela e não ter coragem de me aproximar. Até porque, essa não foi uma escolha minha. Então adotei a conduta e apenas fui adiante. Acontece que essa “história de não olhar pra trás” não funciona na pratica. Porque eu sequer conseguia ir pra frente sem imaginá-la comigo. Eu até tentei frequentar outros bares, ir a outros lugares, degustar outras bocas, focar em outros corpos. Mas desde que ela entrou na minha vida, o que eu conseguia com as demais, era só prazer. O meu conceito sobre “prazeres” abriu um leque de novas definições. Era possível sim, ter tesão, gozar gostoso, curtir o momento, mas eu não sei porque caralhos, faltava algo. Peguei-me pensando...

Talvez o cigarro partilhado depois do êxtase e da explosão dos nossos orgasmos e noites selvagens e despudoradas. Talvez a coca trincando de gelada em contraste dos nossos corpos inflamados e suados. Talvez a música baixa perdendo o tom para as respirações descompassadas. (Ahhh como era incrível ouvir seu coração batendo acelerado e sentir o ar quase não entrar em seus pulmões enquanto ela sussurrava seu “ódio por mim”). Ver suas maçãs avermelhadas e seu cabelo desgrenhado colado de suor no rosto, só não era mais prazeroso que ouvir seus urros e gemidos quando alcançava o orgasmo. Talvez eu sinta falta de coisas das quais nem são perceptíveis no dia a dia dos casais apaixonados. Como ficar admirando seu corpo emaranhado no lençol, ainda impregnado do nosso cheiro. Ou de ouvi-la comentando com um sorriso vadio num tom totalmente angelical sobre as marcas que nem de longe marcavam sua pele como sei que timbrei sua alma (esse contraste donzela/puta dela me alienava o juízo). Porra... É isso! É isso que falta em todas as outras. Detalhes. Minúcias das quais aprendi com ela, fazer toda a diferença. Talvez eu precise parar de garimpar nas outras, ela. Outra coisa que ela sempre enfatizou “não me compare”, e que agora eu tinha plena certeza. Ela não era, não é nada parecida, acho que ela tem razão ao dizer que Deus quando a fez, jogou a forma fora. De fato, ela era única.

Eu parei com algumas coisas, e uma delas foi com um vicio do qual aprendi a apreciar ainda mais depois dela. Eu não fiz isso conscientemente por conta dela, já era um projeto. Aproveitei a mudança e minha tentativa de voltar ao controle e parei de fumar (fiquei por varias vezes imaginando o quão surpresa ela ficaria com essa noticia e o quanto seria complicado pra mim largar esta merda, se estive com ela). Não foi a coisa mais sensata que fiz, afinal, cortar duas dependências de uma vez não é fácil. Pra fazer isso ou precisa ser muito louco ou muito seguro. E entre essas duas coisas, o que sempre fui muito (segundo ela) é maluco. De inicio não foi fácil, assim como me afastar dela, também não foi. Mas quando temos força de vontade (e ajuda) a coisas vai que é uma beleza. Acredito que essa mulher entrou na minha vida pra me mostrar “forças” das quais eu não tinha a menor ideia que possuía. Passei pelos sintomas de abstinência, e curiosamente foram menos danosos do que me afastar dela. Aparentemente eu estava novamente com as rédeas (da minha vida) nas mãos. Não curado, mas no controle. Foi quando o “bip soou” e novamente era ela. Por alguns segundos eu tentei ser racional, queria ignorar e deixar pra lá, continuar como estava. Mas como sempre, tudo que vinha dela fugia as minhas vontades e passavam a sucumbir as dela.

Acabou que falamos sobre coisas que já deveriam estar enterradas, mas por uma razão muito peculiar dela, não estavam. Essa mania dela de arrastar fantasmas me enlouquecia. Eu querendo ir pra frente, mas ela insistia em recuar dois passos sempre que eu dava um na sua direção. (Talvez eu precisasse de um padre, quem sabe exorcizando o que ainda pesa, conseguimos ir adiante mais leves...) As horas foram passando, coisas do passado voltando, novas inquietações submergindo. As emoções adormecidas aflorando, a ansiedade subindo, ela me questionando sobre coisas que eu preferia não responder, eu respondendo coisas que sabia que provavelmente botaria tudo a perder. Droga... eu novamente perdi o discurso entre as perguntas bizarras a assombrosas dela. Do nada ela me pediu pra ler uma carta que havia escrito e assim o fiz, nervoso mas certo de que aquelas apalavras haviam penetrado a muralha de gelo que eu havia ajudado a construir entre nós. Eu tinha outras coisas pra falar, mas naquele momento, tudo se esvaiu. Nunca que consigo falar pra ela, o que ensaio sozinho. Voltamos aquele momento em que há muito a ser dito, mas ninguém fala o que é preciso. Alguns pontos esclarecidos, outros indefinidos, cá estamos nós novamente. Nesse fode e não sai de cima. Eu quero, ela quer ninguém se pronuncia. Nos despedimos sem saber se no outro dia nos falaríamos...

Agora me pego pensando, no porque respondi a mensagem e liguei. Fico puto com as coisas que ela me faz sentir. É como se eu ainda fosse seu dono. Como se ninguém fosse capaz de supri-la como eu a satisfaço, como se ninguém me fosse essencial como necessito estar com ela. Não consigo recuar... Eu simplesmente não tenho forças ou sequer vontade de ignora-la. Quando vi a mensagem eu tinha certeza que retornar seria como “aceitar um trago” com a certeza de que não voltaria a fumar. Impossível, claro. Mas essa maldita mulher era de fato, um vicio oito vezes pior que a nicotina. E pra cura dela, eu de fato não estou preparado ainda.
                                                                         Por. Bell.B      

6 comentários:

  1. Não sei o tamanho do comentário, por isso... ah, seilá. São 3:06 da manhã e eu acabei de beber uma caneca de chá de erva doce com pimenta do reino moída na hora (fica ótimo, sério)

    A parte do "...Talvez eu precise parar de garimpar nas outras, ela. Outra coisa que ela sempre enfatizou “não me compare”..." me fez cantarolar Zeca Baleiro - Ela Não Se Parece com Ninguém.

    Já que esses contos são "baseados em factos reais" devo perguntar: largou o vício é? Essa parte acho que é ficção hen haha

    Aí JURO eu li no celular e bolei o comentário... aí vim pro PC e lembrei do link e PORRA tem uma música do zeca baleiro... serião, eu não vi antes e me remeteu à outra música dele... Fada, Fada, anda me perseguindo?


    Não que vá valer muito te dizer isso, mas eu dei uma voltada às minhas origens em muitas coisas e tava pensando em ir pra alguma rede social fazer um fakezinho, ficar de boas, naquelas de "entrando quando der" aí pensei que já não tinha a mesma graça de anos atrás... o único fake que mantenho é a ruiva porque... o livro dela ta pronto, então já quero pensar no segundo livro (pois é...) e no terceiro e... droga. Desembestei em falar de novo.

    Acho que falei tudo isso ali em cima porque eu acho que estou pronto pra que nos falemos mais do que numa viagem de ônibus. Acho que já estou pronto pro ônibus quebrar numa quinta-feira cinzenta em que a presença no trabalho não era importante e decidimos não esperar o ônibus ser consertado e fomos tomar um chocolate quente (café pra ti, sei que prefere) comendo uns pães de queijo. Que dizes? (isso é minha forma tosca de pedir que responda minha inbox no instagram, porque eu, escritor, tenho essa porra de lirismo dentro de mim e não da pra não glamurizar um simples "dae" numa rede social)

    E... caralho, escrevi demais de novo.
    3:26 (par), vou dormir. Beijo e até o ep. VI

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    1. Já devo ter respondido (ou não) mas vamos lá...

      Eu vou regada a café, cigarro, meus parceiros inseparáveis. Batendo os olhos no canto direito do monitor me "situo" porém, por estar "virada" meu relógio biológico esta completamente desatualizado. Foda-se!

      Zeca Baleiro... Ahhh, tu deve ter clicado por ai, num dos links. To mergulhada nele e noutro "nada a ver com ele". Mas fundo, fundão sabe, e "Chão de Giz" (embora não seja dele e sim do Ramalho) tem riscado em meu peito, coisas que assustam até a mim.O tom, a melodia do Baleiro ta foda (ou to numa vibe sensível pra caralho) Você que escreve, sabe bem do que to falando.

      "Não me compare." Putz, enfatizei tanto, bati tanto nessa tecla que talvez eu mesma tenha feito com que todas as outras, fossem diferentes e no fundo eu fosse mesmo, como todas. (duvidas estão emergindo) Logo em mim, a dona do "tudo sei e controlo sobre mim". #PORRANENHUMA

      Celular, esse tem sido o nome da minha demora. Mais comodo, mais pratico, mais fácil. E daí... a mente flui e descamba a trabalhar, mas cade a porra das ferramentas pra executar? Só PC mesmo, e ai o desanimo leva nome de preguiça e vou empurrando com a barriga, até sentir as palavras me sufocarem e me trazerem até aqui (a mesa).

      Ri com a pergunta, não, eu não ando perseguindo nada. Na verdade tenho esperado pra caralho que alguém saia a minha caça e que esmurre o alçapão e me puxe. To naquele momento em que ao invés de escalar eu escavo. Sei lá porque diabos.

      Os demais, já foram mesmo esclarecidos. E assim como você, falei demais. Mal, ou dom, eu não sei, sei que prefiro me perder num monte de coisas a responder, do que ficar perdida esperando que me perguntem coisas das quais ensaio pra dizer. rs

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  2. E pra cura dela, eu de fato não estou preparado ainda.

    Ahhh que punk isso. Espero mesmo que não cure nunca, porque assim esse conto não acabará nunca. Na torcida e ansiosa pra que esse final sem final seja feliz 😍

    Carol

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    1. Boa noite Carol.

      Pois é, eu também já esperei muitas coisas. Assim como muitas tantas outras esperam. A questão é "Quem espera, sempre alcança?" eu nunca fui mulher de duvidar, sempre busquei, lutei, briguei por tudo que queria, desejava. Mas a vida te da lições e te faz reprovar em matérias das quais você se intitulava ter mestrados. É foda!

      Quanto a final feliz, bom... eu ainda acho que não exista final feliz. Pra se estar feliz, é preciso não conhecer o fim.

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  3. Você é uma mulher incrível. Dessas que quando se tem a chance de estar perto, não se deveria largar jamais. Quem me dera um dia poder ter-te pra mim. Nunca que a deixaria partir.

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    1. Agradeço, mas preciso dizer que "esta opinião" é muito fácil na tese. Na pratica a coisa muda de figura. Eu não sou incrível, e sendo bem sincera, nunca tive a pretensão de ser. Quanto a ter-me, sorri com esse teu desejo. E sem querer ser grosseira e podendo ser, não sou uma mulher que se encaixa a qualquer homem (é homem certo? rs), as minhas medias são extremas e meus critérios muito limitados. Talvez a mulher ideal numa cama, ou uma companhia excelente pra um cinema e um café. Mas não pra conviver.

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