24 julho 2016

Sinto Dizer...

Você veio aqui procurando por respostas. Para perguntas que nem sabia que tinha. A princípio, pode até parecer que começou a ler sem buscar nada em especial, além de algum conteúdo interessante, uma ou outra informação relevante, algo que valha a pena agregar. Só que existe muito mais por entre essas linhas e por trás dessa tela. Existem muitas dúvidas no ar, que talvez nunca tenha dividido com ninguém. Dúvidas as quais tem respirado e até se inspirado ao longo dos anos, e que poderiam muito bem te sufocar. Você veio aqui procurando por respostas. Só não sabe disso ainda.
Portanto, sinto lhe dizer que não trago nada além de mais dúvidas, onde muitas você já conhece bem. Na verdade não sinto. O gesto e a menção não passam de mera intenção em poupá-lo do impacto causado pela realidade a qual você insiste em ignorar e a consequente dor que acredita ter superado possam ambos vir à tona. Embora eu deva admitir que a oportunidade de fazê-lo enfrentar seus demônios me pareça tentadora. Se são respostas o que procura, sugiro que pare de ler imediatamente. O meu papel é apenas o de mostrar onde estão suas perguntas. Cabe a você respondê-las satisfatoriamente. Duvido muito que consiga.
Entretanto, para tal, gostaria de iniciar perguntando-lhe porque diabos ainda continua lendo. Nem você mesmo sabe, está se tornando um hábito. Com o perdão das antíteses e psicologias reversas à parte, se dê por avisado.
O quanto desejou nunca ter nascido? Como gostaria de morrer? Se o desejo ainda perdura, o que ainda o mantém aqui? Por que gostaria de assistir ao próprio enterro? Que música tocaria nele? Qual título daria ao filme que seria exibido nos instantes finais de sua vida? Que epitáfio você escolheria? Pelo que gostaria de ser lembrado após sua partida? Se pudesse voltar no tempo, teria mais coisas a corrigir do que mais momentos pra reviver? O que o seu eu anterior está dizendo para o seu eu interior? Por que não consegue explicar quem realmente é nem para si mesmo? Quantas identidades precisaria adotar até finalmente descobrir? De onde vem toda essa sua vontade de largar tudo e sumir? E o que te faz voltar? Do que exatamente acredita que necessita se salvar? Até que ponto o seu prazer em testemunhar a desgraça dos outros chega? Para que lugar o seu orgulho te levou? Onde foram parar as promessas que não cumpriu? Os sonhos que abandonou? Qual foi a maior mentira que você já se contou? Percebeu como se tornou escravo da liberdade que tanto deseja? O que faria com ela depois de conquistá-la? Já notou como o silêncio é ensurdecedor? O quanto depende da aprovação alheia? De como acredita cegamente no amor? O quão influenciável ainda é?
Que perguntas você tem que ninguém nunca conseguiu responder?
O que o segredo revela é a busca. É onde tudo se inicia. É o que nos move, mesmo que seja em direção ao nada. E isso se aplica a tudo. Para cada paradigma deve haver um paradoxo. Quanto mais sabemos, mais tendemos a reconhecer o quanto ainda precisamos aprender. A partir do momento em que deixa de se questionar você morre, antes mesmo de fechar os olhos pela última vez, se é que um dia os abriu. Antes de começar a viver, se é que não já terminou. Antes de conseguir descobrir de onde veio, porque está aqui, para onde vai e quem esse sujeito pensa que é pra falar desse jeito com você. Dentre todas as perguntas, esta última é a que menos importa. Entretanto, me limito a dizer quem eu não sou. Alguém que apenas vomitou verdades prontas. Alguém que o fez aceitar respostas evasivas. Alguém que desconsidera o real valor das perguntas. Olhe ao seu redor, ele está repleto de pessoas assim. Agora olhe para dentro de si.Você é uma delas?
Por. Charmoso Canalha

16 julho 2016

Só Mais Um...

Fica ao menos o tempo de um cigarro, evita comigo que este tempo ande. Lá fora são as casas, vive gente à luz de um candeeiro, o som que nos chega apagado pela distância só denuncia o nosso silêncio interrompido. Ajuda-me, faremos o inventário das coisas menos úteis, mágoas na mágoa maior do tempo. Fica, não te aproximes, nenhum dia é menos sombrio, e quando anoitecer vamos ver as árvores cercando a casa.
                                                                      Por. Helder Moura Pereira