24 fevereiro 2015

Baguncei Você

Eu queria te bagunçar, sim. Mas a bagunça que eu buscava envolvia só cabelos desgrenhados, roupas amassadas, lençóis pelo chão. Queria, talvez, uma bagunça no seu escritório, tipo aquelas cenas de filme, em que a mulher chega de surpresa, tira as coisas de cima da mesa para ela poder deitar. Era essa bagunça que eu queria e não a que eu causei.

Desculpa pelo amor sem medidas que você me deu. Eu não tinha a quantia necessária para retribuir de forma justa, mas achei que conseguiria alcançar algo semelhante um dia. Por isso deixei acontecer. O que eu não percebi é que, quanto mais eu permitia, menos eu sentia. No fim, não era amor… É que você me fazia um bem danado pra eu abrir mão tão fácil.

Desculpa o meu egoísmo filho da puta. Acredite, eu me odeio por saber que te baguncei nesse tanto. Eu te vejo sem saber o que fazer agora, já que joguei todos os nossos planos fora. Eu os quis, sabe? De verdade. Eu queria ter ido conhecer sua família em Minas Gerais nas últimas férias. Queria ter adotado um cachorro vira-lata. Mas, o que seriam deles hoje? Seriam mais corações partidos (por mim).

Aguentar o peso do seu coração nas minhas mãos não é fácil. Eu queria que você voltasse a sorrir como antes. E quero muito que você não tenha medo de amar assim de novo. Ame! Eu é que sou o problema – por mais clichê que isso possa parecer. Você ama bem. Ama de verdade e isso é tão raro hoje em dia. Eu sou prova disso… Você deu azar ao me escolher.

Se eu pudesse, voltaria no tempo. Passaria reto por você naquele bar. Não tomaria a cerveja que você me ofereceu. Não teria te passado o meu número nem teria aceito o seu convite para a semana seguinte. Não teria deixado você se apaixonar por mim. Não teria te machucado. Não teria sido eu.
                                                    Por. Leca Lichacovski

Sou como Sou

Eu sou bem assim, ora digo que quero sumir, noutras quero me guardar dentro de você. Minha língua se enrosca com as palavras, mesmo quando estou com o discurso ensaiado na ponta dela. É foda... Eu não consigo exercer a educação que me foi passada quando to puta, to puta de raiva. E meu analista já me disse que falar palavrões é terapêutico. Então foda-se se eu não sou como aquelas garotas meigas e doces. Eu não tô nem ai pro que acham ou pensam de mim. Ser como sou, não implica em ser alguém que só se importe com o próprio umbigo. Mesmo parecendo ser isso. A verdade é que eu me importo sim, eu me importo demais com tudo, com as pessoas, com o mundo. E não ser capaz de carregar tudo nas costas ou abraçar de uma vez só todo o mundo, me deixa assim. Revoltada... Então pra dar certo, ou ao menos tentar dar. Ignore as minhas crises de TPM'M, grita de volta quando eu aumentar o tom e me sacode mandando eu calar a boca, e em seguida me puxa pro colo me levando pra cama. Dormir!? Fazer amor?! Discutir?! Trepar?! Tanto faz, mas que seja no mesmo lençol, do mesmo lado da cama. Ignora meu choro que rompe do nada, ri comigo das infinitas abobrinhas que contrastam meu lado intelectual, mostra pulso. Aquiete meu lado autoritário e egocêntrico a pulso. Ele não é tão forte assim quanto parece ser. E não me conte histórias... Odeio os contos de fadas, onde os príncipes são Mauricinhos e chegam montados no cavalo branco. Doma o leão que guardo no peito. E foda-se o muro que construí. Dá com a sola do pé na porta e arrebenta, me arrebenta! Entra, invade, toma. Não sou de ninguém, nem de mim mesma. Preciso que cuidem de mim, melhor do que tenho cuidado de mim mesma...
Por. Bell.B

21 fevereiro 2015

A Dama e o Vagabundo

A gente vai ser feliz. Assim, no gerúndio mesmo. Sem ele fica parecendo frase de conto de fadas e isso é real, bem real. Não é fantasia. Não começa com ‘era uma vez’, porque não éramos. Somos e aqui estamos. Você ai e eu aqui, mas estamos no mesmo livro, na mesma história. Isso não é lenda, onde os bonzinhos são sempre bonzinhos e os malvados, malvados. Se fosse uma fábula eu seria o sapo que tenta virar príncipe desde o seu beijo. Não esses príncipes com cara de viadinho da Disney, mas uma versão menos romantizada, que bebe cerveja e anda de carro sujo e velho no lugar de um cavalo branco.

Já você seria o coelho branco. Mesmo sem relógio, pensa que está sempre atrasada. É branquinha, fofinha e corajosa. Num dos seus corre, acaba encontrando Alice e a leva pra outro mundo, o das Maravilhas, dando início a uma bela epopeia. Mas, como disse, isso é realidade. E ela dói. Não serve pra fazer criança dormir. Faz até a Bela Adormecida acordar. O veneno não está na maçã oferecida pela princesa, mas na nobre atividade de amá-la. Morder esse sentimento implica em aceitar que toxinas pesadas corram pelas veias. Alucinógenos como o apego, ciúmes, obsessão, raiva e mágoa acabam tomando conta da sua mente e levando-o para Terra do Nunca, onde passa a se comportar como criança.

Você vai querer cheirar pó de pirlimpimpim e encher a cara de suquinhos gummi. Sua barba vai crescer igual as tranças da Rapunzel e, se não tomar cuidado, vai terminar fedendo feito o Shrek. A toxina vai afetar ainda a sua visão, fazendo com que passe a enxergar aquela linda princesa como uma bruxa. Suas orelhas de Dumbo também ficarão prejudicadas, não escutará nada e ninguém. Uma hora vai se sentir grande e forte como o gigante. Em outras, pequeno e insignificante feito o grão de feijão do João. Rejeitado igual ao patinho feio.

Para evitar que a carruagem do amor vire abóbora, tome às rédeas da vida. Controle o veneno que corre nas veias e abocanhe sem medo a maçã mesmo que encontre dificuldades de cravar os dentes em algumas partes. Sua princesa, a minha princesa, vale cada dragão que tiver que enfrentar. Lute bravamente pra domar os fantasmas que o assombram. Caminhe de mãos dadas com ela na floresta e não pare pra comer doces. Escale a porra da torre sem pensar no tamanho da queda. Não desista. Não desisto. Acredite, nossa história não tem fim. Juntos, seremos felizes para sempre.
                                                           Por. Hernani Lélis