30 julho 2013

Open Bar

Olhou o relógio (1:03) e as chaves do carro. (Dane-se que o número no visor não a agradava... Chega!) Disse a si mesma, não podia mais continuar assim. Apanhou as chaves... (sentiu como se tivesse pego naquele exato momento, o coração dele nas mãos). Não tinha de cor o "tal destino" mas seguindo seus instintos e confiando em sua memória fotográfica, deu partida no carro e seguiu. As ruas estavam desertas, certamente por conta do frio. Neste mesmo horário em outras estações do ano, os bares estariam lotados, o transito engarrafado, estilos musicais se misturariam no ar, saindo das janelas dos carros. Mas hoje não, não se podia notar qualquer presença em canto algum, com as exceções de gatos pulando sobre latas de lixo nos becos, vasculhando sobras, ou um ou outro ser, encolhido em trapos em meio as calçadas, tentando fugir do frio. Entre tantas as coisas que pensava a caminho, tentava manter o foco no seu Destino. Tinha estado lá uma única vez, mas enquanto percorria a estrada, tudo ali lhe parecia muito familiar. Enfim a "tal" rua estava próxima. Pra variar, foi tentar encurtar a rota e acabou tendo que dar 2 ou 3 voltas até voltar ao ponto certo que a levaria até lá.

Assim que o carro embicou na rua, apagou os faróis. Muito lentamente foi se aproximando da casa. Não queria ser vista, não antes de estar preparada pra se mostrar (sempre tão confusa). Parou o carro embaixo de uma árvore a duas casas da dele. Ao descer, se olhou no reflexo embaçado da porta do carro, fez menção de ajeitar o cabelo, mas não o fez. Antes de jogar os fios para o lado, suas mãos foram direcionadas aos seus lábios. O frio estava aterrorizante, e instintivamente baforou entre as mãos para aquece-las. Enfim, puxou o ar, soltou e uma neblina formou-se diante de seu rosto. Parecia ter soltado um trago. Foi quando se perguntou no porque de não ter acendido ainda um cigarro. Enfio uma das mãos no casaco e tateou o maço. Mas nem sequer o tirou do bolso. Sabia o quanto ele detestava o cheiro do tabaco, não queria que esse reencontro fosse marcado com um perfume tão desagradável. Sorrindo foi caminhando até o portão da casa. Tinha tanta coisa pra falar, perguntar, confessar... (que por alguns segundos, esqueceu-se até do frio) estava ensaiando o "olá" quando se deu conta de já estar pisando no primeiro degrau. Automaticamente o indicador foi direcionado a campainha, mas por alguma razão, não chegou a tocar. Foi como se ela tivesse sido congelada. Não pelo frio, mas pelos seus sentimentos. (O que diabos estava fazendo, porque tinha ido até lá sem ligar?) Sacudiu a cabeça, esfregou uma mão na outra e pensou... (Já estou aqui, foda-se...vou tocar). E mais uma vez foi freada, mas desta vez não pelos seus pensamentos e emoções, nem tampouco por seus medos e receios. Uma silhueta feminina sombreou na parede da sala. Num reflexo, deu alguns passos para a direção da janela e apertando os olhos pode ter ainda mais certeza. Embora estivesse escuro do lado de dentro, este era um esboço que facilmente reconheceria. O coração bateu disparado, e momentaneamente achando que poderia ser ouvida, encolheu-se abaixo da janela. Sua respiração foi de 0 a 10 e parecia ter corrido milhas até o ponto em que se encontrava. (Deus o que estou fazendo...?) Alguém apareceu nos vidros embaçados e neste momento ela não pode identificar quem era. Encolheu-se ainda mais desejando sumir, desaparecer, se tornar invisível. A presença acima dela, a acuava tanto quanto a intrigava. Em outrora, socaria a porta e descobriria quem era. Mas desta vez não.

Enquanto se concentrava na tentativa frustrada de desaparecer num passe de mágicas, sua concentração foi bruscamente interrompida por um "tom" familiar. (era suave embora grave, as palavras soavam curtas, mas com sempre, tão carregadas de dizeres. Sentiu um nó sufocar-lhe a garganta. Não fez força pra entender ou ouvir o que falavam. Talvez nem se quisesse conseguiria. Focou na outra voz, mas não a reconheceu e ficou ainda mais puta, pela forma que ela, a ele se dirigia) Esfregou as mãos no rosto com força, com raiva, ódio talvez. Esperou mais alguns minutos para que pudesse se levantar e sair dali sem ser vista. E quando se sentiu segura, correu para o carro. Passou-se algum tempo até que conseguisse retomar a consciência, dar partida na ignição e sair. Ficou por horas com a cabeça debruçada sobre o volante e entre esse meio tempo em voltar a realidade e digerir o que tinha acontecido ali, socou o volante, esperneou sentada mesma, chorou, rosnou, grito milhões de palavrões (alguns novos até pra ela mesma, que dizia usar palavrão como terapia). Quando enfim parecia mais controlada... Olhou para as palmas das mãos e (manchas avermelhadas contrastavam com o tom de sua pele clara, uma de suas unhas estava quebrada, quando direcionou seus olhos para o retrovisor, percebeu que estava completamente descabelada) por mais que tentasse, não conseguia cessar o tremor. Prendeu a respiração por alguns segundos, e depois soltou. Sentiu seus pulmões mutilarem seu peito e jurando nunca mais voltar lá se recompôs e partiu.

Não queria voltar pra casa, sabia que passaria o resto da noite (ou já dia) amargurada, lamentando, com um moletom velho e uma blusa rasgada, sentindo-se a pior das espécies. Um letreiro em neon, chamou-lhe a atenção (Open Bar). Encostou e rapidamente um manobrista encostou abrindo a porta. Deu a ele a chave do carro, ao entrar no Bar um anfitrião tirou seu casaco e a direcionou a uma mesa. Olhando o cardápio, decidiu por pedir a bebida mais forte e mais cara da casa. (sabe-se Deus lá porque, odiava bebida alcoólica, não suportava) Dizem por ai que nada como uma boa dose de álcool para afogar as magoas, vai ver ela queria ver na pratica se essa teoria realmente funcionava. Tomou, uma, duas, três e já na quarta, chegou a conclusão de que essa merda de teoria, só piorava. Mas percebeu também, que a piora e a confusão dos seus pensamentos, talvez pudesse ajudá-la. A cada gole e um trago, devaneava. Conseguia ir e voltar a pontos que quando lúcida, não enxergar. Quem sabe com o sabor etílico em seus lábios, conseguisse agora, compreender e descobrir o que de fato os levou até aquele ponto em que ela agora, se encontrava. Porém neste agora ela estava "embriagada", seduzida, tomada demais pelos novos sabores, queria desfrutar do resto da noite e quem sabe depois de uma longa noite de sono e um dia inteiro de ressaca, fosse capaz de conseguir raciocinar. Fosse capaz de se reordenar, tivesse coragem de pegar o telefone e ligar. Quem sabe...
Por. Bell.B

Um comentário:

  1. Já estava prestes a pedir a conta, quando à viu entrar. Aparentemente atormentada, e esta certeza veio junto com a quantidade de bebidas que a viu pedir. Não teve coragem de se aproximar, ficou a observando de longe, sem qualquer receio de ser notado. Ela estava focada demais nos drinks para perceber que estava sendo observada. Na verdade, admirada. Pediu mais uma dose do que estava bebendo e a viu sair. Sorrio, e firmou o pensamento na torcida de vê-la mais vezes por lá.

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